A ETERNIDADE NA ESCURIDÃO | CONTO

| sábado, 24 de setembro de 2016 | |

Jorge acorda de madrugada com sede, vai a cozinha beber água, quando abre a torneira um líquido viscoso, denso e avermelhado é liberado ao invés de água.

Ele ainda estava sonolento e acreditou que aquilo era obra de sua imaginação, isso acontecia muito com alguém solitário e depressivo como ele, provavelmente mais uma reação às drogas que ingeria.

Mesmo assim jogou o líquido fora, esfregou os olhos, abriu novamente a torneira e o mesmo líquido emergiu. Como Jorge acreditava que aquilo era fruto de sua imaginação, sabia que aquele líquido era água e quando bebesse sentiria sua fluidez suave descendo pela sua garganta.

Levou o copo à boca e o bebeu. Seus músculos enrijeceram, uma onda fria percorreu seu corpo. Teve certeza, aquilo era sangue e possíveis órgãos triturados.

Ficou em choque, não conseguia acreditar naquilo. Foi caminhando tonto e desajeitado na escuridão em direção a caixa d’água.

O medo aumentava, mas a fé de que aquilo era obra de uma mente perturbada e um corpo dopado não era desconsiderada.

Já em frente à caixa hesitou por um instante e a abriu. O Seu próprio corpo flutuava no líquido avermelhado, antes somente água, seu tórax estava aberto e seus órgãos, ou o que restou deles, estavam expostos e dilacerados.

Jorge perdeu a respiração, recuou para trás enquanto sentia lágrimas escorrem. Era tudo tão real que Jorge desacreditou estar sob efeitos de drogas.

Mas se estava morto, como poderia ver a si mesmo e acreditar que está vivo, sentir sono e sede?

Quando Jorge se fez essa pergunta teve um segundo de puro silêncio, como se o planeta tivesse parado de girar, mas estremeceu quando ouviu um trovão que pareceu partir o céu, olhou para cima enquanto rajadas de vento movimentavam seu corpo, uma nuvem negra e espessa parecia se aproximar, ou ele parecia se aproximar dela, nada mais fazia sentido.

Ele tentou correr mas caiu, e quando se virou a nuvem estava próxima dele, como fumaça, ele tapou os olhos e começou a gritar enquanto era envolvido pela nuvem.

Jorge abriu os olhos e se viu em um infinito escuro, sem perspectiva de fim, apenas escuridão. Ele corria tentando encontrar algo, mas era inútil.

Ele podia se ver, olhou para suas mãos, tocou seu rosto, ainda parecia quente e vivo. Mas não era, estava morto e condenado à aquela eternidade sem objetivo.

Esperava encontrar Deus, o paraíso ou até mesmo o inferno, mas nada daquilo jamais existiu, ele apenas estava morto e preso a seu corpo putrefato para toda a eternidade.

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